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Foto do escritorClara Mello

5 poemas sobre amor e suas fases

Todos os poemas citados aqui estão no livro Vênus em câncer, de Clara Mello (euzinha). Você pode comprá-lo aqui mesmo no site, na lojinha, e pedir autografado para você, ou para quem quiser presentear.


As incertezas de se apaixonar

Se apaixonar é sempre um risco, um acidente, e uma vivência intensa sem possibilidades de promessas. Por mais que a gente queira receber ou ofertar a garantia do amor eterno (e muitas vezes a gente quer), a única forma sincera de viver o enamoramento é se entregando ao agora.


Te faço as juras do amor eterno

Agora

O amor é o dia

E a sua hora

O momento seguinte

Suspense

Suspenso

Na urgência de um grito

No minuto exato

Te faço as juras do amor infinito

Enquanto posso.

Não é estranho, não é bonito

Que todo amor já nasce

Temendo a morte?

Eu te amo hoje

E amanhã

A gente tenta a sorte.



Amor da vida?

Sabe quando a gente sente que acabou, mas ainda assim, alguma coisa está confusa e estranha? Ou quando a gente queria continuar, mas a situação acaba sendo delimitada à revelia da nossa vontade? Essa história de "amor da vida" é complicada porque todo amor é o único, o primeiro e o último. Sendo assim, o jeito é ser como os gatos e ter várias vidas, para comportar todos os nossos amores.


Amor de uma das minhas vidas

Sempre me disseram

Que a vida é imprevisível

Que a vida é breve

Que a vida é bela

E a vida é risco

Mais uma vez eu me despeço

Morre um amor

Amor de uma das minhas vidas

Foi lindo enquanto durou

Não seja duro comigo

Um dia após o outro

E outro amor morre de novo

Se perdi mais uma vida

Tudo bem, por mim

Depois da quinta

Talvez eu acerte

Meu coração felino

Tem sete.



Quando a gente percebe que acabou...

Quem nunca percebeu que o fim estava chegando, e teve que se despedir da pessoa amada (ou ex amada), da relação e de todas as expectativas e planos que fez? Não dá para negar a dor, mas a gente sobrevive. Quando a gente percebe que o amor não é definitivo, também descobre que o fim e a dor não precisam ser.


Está tudo bem

O fim não é tão ruim assim

Vamos ficar tão bem

Logo mais

Cuida da sua dor

Que eu cuido da minha

E tudo isso na hora certa

Fica em paz.

A vida é tão doida

Quem sabe a gente

Se reencontra algum dia

Ou nunca mais.


A fossa que vira superação

"Ai, Gabi, só quem viveu sabe". Só quem já quebrou a cara e o coração sabe a dor que a gente sente, o estado deplorável que a gente consegue chegar, e como também a gente se regenera com o tempo, esse remédio valioso para tudo ou quase tudo. Depois de afogar as mágoas e acolher a dor, a gente sai da fossa pronta para outra.


Nos dois primeiros dias

Chorei até a última gota

De cama, prostrada

Descabelada, sem vaidade

No terceiro dia

Usei a última lágrima

E lavei a louça

E depois

Nunca mais chorei de verdade.

No fim da semana

Passei batom

E na semana seguinte

Dei o primeiro sorriso sincero.

Voltei a correr

Voltei a beber

E a beijar

Sem ajuda de aparelhos.

Voltei à Lapa

E sambar é que nem andar de bicicleta

Amar é quando a gente tira as rodinhas

E deixa cair, se precisar

Deixei a dor secar ao sol

Deixei doer até esgotar

Um dia (não sei dizer quanto tempo depois)

O machucado, talvez já cansado

Parou de sangrar

Nem vi quando foi

Estava distraída

E só lembrei do acontecido

Quando alguém perguntou

E aquela história

Passou?

Passado

Acontece num piscar de olhos

E ao fim de algumas semanas

Dor de amor não me faz medo

Pode vir quente

Que eu me derreto

Sem pressa de sarar.

Um dia desses, por aí

Me enamorei de mim

E desde então,

Não tive mais medo

Nem de começo

Nem de fim.





Quando a gente se apaixona de novo

Se não é a primeira vez, a gente já sabe que pode sofrer, mas melhor sofrer tendo vivido, do que sofrer por não viver. Além do mais, quando a gente se apaixona, parece que nem há mesmo escolha. Então, prepara o coração e aproveita o que vier.


Querido coração,

me desculpa.

Posso evitar, mas não quero

Posso voltar, mas insisto

Se for irresistível, não resisto

Aguenta firme, aperta o cinto

A queda será feia

o corte, profundo

vai doer

Respira fundo

Segura a onda

Coragem!

Vou te rasgar inteiro

Vou te dobrar no meio

Virar você do avesso

Desculpa

vou te dar uma facada

te meter numa roubada

Incendiar tudo... Deixar o fogo pegar

Ver queimar cada pedaço

Depois eu apago, eu juro

Depois sossego o facho

Faço das cinzas poemas

Visito bares e faço

da dor canção.

Faço remendos, cuidados

Deixo você todo novo

E quando estiver sarado

Desculpa

faço tudo de novo.


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